Dead Island é aquele jogo de zumbis que já chegou com os dois pés na porta graças a um dos trailers mais lindos já realizados para qualquer mídia. Seu trailer maravilhoso fez com que o jogo entrasse no radar de todo gamer que se preza, mesmo não revelando absolutamente nada de como a jogabilidade realmente seria. Isso, na real, não importava.
O trailer nos promete algo emocional, introspectivo e, por causa disso, totalmente inédito na cultura Z. Todos sabem que qualquer coisa envolvendo zumbis feita até hoje segue dois caminhos: um totalmente cerebral, usando os miolentos como metáforas para as relações sociais entre seres humanos, ou então a pura e simples diversão descompromissada.
Através desse trailer, Dead Island estava nos prometendo algo novo, inédito. Será que cumpriu o prometido? Não, de forma alguma. Isso foi refletido nas resenhas mornas que poparam na época do lançamento. Mas embora não seja um jogo único ou excepcional, isso não significa que não seja uma boa obra.
BORDERLANDS MISTURADO COM CONDEMNED
É assim que qualquer gamer escolado vai definir Dead Island. Temos aqui um RPG de ação em primeira pessoa, exatamente como o divertido Borderlands. Porém, ao contrário de Borderlands, o combate aqui não é focado em tiroteios, mas em corpo a corpo, com qualquer coisa que você puder encontrar pelo caminho. Canos, bastões de baseball, pás… Tudo isso pode virar arma, exatamente como em Condemned.
Combate corpo a corpo em primeira pessoa não é muito comum, mas também não é inédito. Delfonautas dedicados com certeza já conhecem Condemned, nem que seja pela quantidade absurda de vezes que eu citei esse jogo aqui (e, se você nunca jogou, faça um favor a si mesmo e compre, deve estar saindo por menos de dez dólares a essa altura).
Condemned tem um corpo a corpo em primeira pessoa muito bem desenvolvido, inclusive com defesa, combos e fatalities. Dead Island é muito mais simples. Aqui o jogador vai ficar apenas martelando o botão de ataque torcendo para o zumbi morrer antes de causar muitos danos. Nesse ponto, seria legal que a Techland tivesse feito a lição de casa e tentado incluir algumas das inovações de Condemned em seu jogo.
Também temos armas de fogo aqui, que aparecem só depois que você já jogou bastante, mas a munição é escassa e os zumbis são muito mais resistentes a tiros do que a porradas. Assim, elas acabam sendo úteis apenas quando você se envolve em tiroteios com os vivos, até porque daí cada um que você mata solta munição. Esses tiroteios são um bom desvio de foco, e são muito bem-vindos quando aparecem, embora eliminem a tensão e o medo de sair na mão com um zumbi.
E O DEAD RISING, TIO?
Outro jogo que costuma ser comparado a Dead Island é, claro, Dead Rising. A influência é visível, uma vez que todas as armas também são quebradas com o uso e você pode juntar material encontrado pelo cenário para criar novas e pintudas máquinas de matar.
No começo do jogo, você vai usar remos, facas e pedaços de madeira que estão em todo lugar no cenário. Depois de um tempo, no entanto, vai encontrar guias para a criação de novas armas e logo vai estar fatiando zumbis com machetes que pegam fogo ou marretas que dão choque.
Essas armas não estão em todo o lugar e, portanto, você vai querer mantê-las, o que significa que você vai precisar pagar para consertá-las. Cá entre nós, eu não gosto desse tipo de coisa e já não gostava em Dead Rising. Entendo que a desenvolvedora opte por esse caminho para deixar o jogo mais desesperador, mas eu prefiro ter a liberdade de usar minhas armas preferidas o quanto quiser.
A ROTINA DE JOGO
A rotina é exatamente igual à de Borderlands. Você é livre para explorar e ir para onde quiser. Alguns lugares terão grupos de sobreviventes e vários deles vão ter missões para você. Ou então você pode estar simplesmente passando e encontra um caboclo preso em um carro sendo balançado por zumbis. Gente boa que é, vai salvar o cara, e ele invariavelmente terá uma pá de missões para você.
Algumas dessas missões avançam a história, mas a maioria são sidemissions. Você sempre vai ter no seu log algo entre cinco a dez missões ao mesmo tempo. E esse, meu amigo, é o principal problema do jogo para mim.
Sim, eu sei que não estou sendo justo, pois temos aqui um RPG e RPGs são assim. Claro, você pode aceitar e fazer uma missão por vez, mas isso não é prático, pois muitas vezes três missões podem te levar exatamente para o mesmo lugar no mapa, ou então no caminho até a mais distante, você pode realizar outras, possibilitando que você faça todas de uma vez. Assim, você acaba aceitando tudo e se planejando para fazer o máximo possível com o menor risco.
O meu problema com isso tem a ver com uma filosofia que você provavelmente já ouviu: “dê poucas opções a um homem e ele fica revoltado. Dê muitas, o você o deixa deprimido”. No caso de Dead Island, ao pensar que eu tenho 10 missões pendentes, eu acabo ficando estressado e não querendo parar de jogar até diminuir esse número. Só que o número não diminui, pois você sempre vai recebendo missões novas.
Isso também me incomodou em Borderlands, Deathspank e todos os outros RPGs de ação que joguei. Sim, eu sei que nesse ponto estou sendo totalmente pessoal (é a proposta do site, afinal de contas). RPGs são assim por definição e muita gente gosta disso, então estou apenas falando que Dead Island é assim e, se você gosta, coloque este item na parte das vantagens do jogo. =]
PERSONAGENS E HISTÓRIA
Assim como Borderlands, aqui você também escolhe entre quatro personagens, representando as quatro classes tradicionais de RPGs. Temos uma especialista em facas, um que gosta de arremessar as armas, uma que gosta de armas de fogo e, por fim, o carinha que gosta de armas de impacto (martelos, por exemplo). Eu joguei com este último, o rapper Sam B.
Dead Island tem várias cutscenes, mas o desenvolvimento de todos os personagens, inclusive dos protagonistas, é raso e quase inexistente, e esse talvez tenha sido o principal motivo para as resenhas mornas que recebeu. Afinal, não era isso que o trailer prometia.
Na faculdade de publicidade, é ensinado que uma boa propaganda para um produto ruim só o fará falhar mais rápido, e é fácil entender o porquê. Dead Island não é um produto ruim, mas foi vendido como uma coisa que não é, e esse foi o único pecado em sua divulgação.
Mesmo as missões de história são totalmente genéricas. Elas são tão parecidas com as sidemissions que depois de um tempo eu nem sabia se estava fazendo uma principal ou uma secundária. Todas elas são coisas como “preciso de um item que está nesse local. Vá até lá e traga para mim”, ou então “os zumbis tomaram o cemitério. Vá até lá e faça a limpeza”.
Isso não significa que o jogo não seja divertido. Aliás, ele é MUITO divertido. Ele só não dá muito contexto para a carnificina. No início do jogo, você mata todos os zumbis que aparecem, mas chega um ponto que as ruas estão tão infestadas por miolentos que você acaba muitas vezes evitando as lutas, indo por caminhos mais longos, mas menos habitados. E isso nos leva a…
TIPOS DE ZUMBIS
São poucos tipos, mas a maior parte deles é legal. Os walkers são os mais comuns e são os típicos zumbis do George Romero, lentos e burros. Outros bem comuns são os infected, saídos diretamente de Extermínio. Esses são rápidos e ferozes. Normalmente você os ouve gritando antes de eles aparecerem, e isso é bom, pois poucos segundos depois de aparecerem, já estarão comendo seus miolos, então você precisa reagir rápido. Felizmente, eles costumam morrer com um único golpe bem dado, e é muito divertido quando eles vêm em fila e você vai derrubando um por um com sua marreta enorme. =]
Esses são os mais comuns e os mais legais. Infelizmente, outros tipos de zumbis que só aparecem em games também popam, como aquele que ataca através de vômito ou o que explode. Todo game de zumbis, com a possível exceção de Dead Rising, tem esses dois tipos, e eu nunca gosto deles, pois não os considero trüe zumbis. Alguém já viu um zumbi atacar o herói de um filme com vômito? Eu nunca vi. =P
Tem outro que é bem true, mas que é muito chato de matar: o thug. Esse é um zumbi grande e forte, praticamente um walker que, quando era vivo, era um halterofilista. O problema dele é que ele te derruba com um golpe e demora muito para morrer. A única forma de matá-lo é se afastando entre cada golpe, e como a energia dele é enorme, demora vários minutos. Acredite, é tão chato lutar contra ele que eu costumava fugir toda vez que o via.
Além dos tipos de inimigos propriamente ditos, os zumbis normalmente são diferentes uns dos outros. Durante meu jogo, não cheguei a reconhecer a mesma “pessoa” nenhuma vez, o que é fantástico. A única exceção são os tipos mais avançados (como o do vômito). Esses são sempre iguaizinhos, mas os walkers, infected e thug são sempre diferentes. Além disso, o design deles têm a ver com o cenário. No resort, por exemplo, você vai encontrar pessoas em trajes de banho, enquanto na selva encontrará indígenas.
Graças aos excelentes gráficos e alto nível de detalhes, os zumbis são grandes e ameaçadores. Na verdade, senti que os personagens em geral são maiores e mais detalhados aqui do que na maior parte dos jogos em primeira pessoa. Quando saía no tiroteio com os humanos, por exemplo, tinha uma facilidade incrível em fazer headshots, mas não sentia que os vilões eram especialmente cabeçudos. Se você já jogou, diga nos comentários se também sentiu que os personagens são maiores do que o normal por aqui. =]
CENÁRIOS
Em todos os trailers e imagens de divulgação, vimos que Dead Island se passaria em uma ilha paradisíaca localizada na Nova Guiné. É exatamente lá que o jogo começa, em um resort lindíssimo, bem parecido com o que encontramos naquelas cidades brasileiras bonitonas, como Jericoacoara.
Essa proposta, de matar zumbis em um lugar paradisíaco, é boa parte do que torna Dead Island tão atraente, uma vez que jogos do gênero costumam rolar em cidades destruídas bem feias. Infelizmente, a Techland não se manteve fiel à sua própria proposta.
De fato, o jogo começa no resort, mas logo em seguida te leva, adivinhe só… para uma cidade destruída. E nessa cidade, você vai ficar uma boa parte do tempo andando pelos esgotos. Os outros cenários disponíveis são a floresta e uma prisão. Ou seja, tirando o resort, todo o resto do jogo acontece em lugares extremamente batidos no mundo dos games. E nem tinha necessidade para isso, já que o resort é tão bonito e tão interessante que poderia, sozinho, sustentar o jogo inteiro, assim como sustentou a divulgação.
E isso até poderia deixar a história mais interessante. Os primeiros sobreviventes, que você encontra no resort, somem totalmente do jogo assim que você vai para a cidade. Cada vez que você muda de “fase”, as pessoas que te passam missões também mudam, impossibilitando maior desenvolvimento e apego. Desenvolvimento e apego que fariam muito bem ao jogo, especialmente por quem comprou baseado no trailer inicial.
Embora os cenários sejam totalmente comuns, não dá para negar que são todos artisticamente lindos. Claro, o resort é o destaque, mas a cidade destruída e a floresta são belíssimos. A floresta, aliás, é quase tão bonita quanto o resort. Só ficam atrás mesmo os esgotos (alguém entende por que games gostam tanto de fazer fases em esgotos?) e a prisão, que são feios e nem um pouco inspirados.
GLITCHES
Infelizmente, embora seja visualmente lindíssimo, não podemos dizer que Dead Island é uma perfeição técnica. Sempre que eu jogava conectado à PSN, mesmo que sozinho, o jogo dava pequenas travadinhas. Nunca duravam mais do que um segundo, mas eram comuns o suficiente para atrapalhar, e por isso eu normalmente escolhia jogar desconectado.
Isso, aliás, é uma pena, pois Dead Island é criado para ser jogado em cooperativo por quatro pessoas. Infelizmente, a Techland não colocou um modo de tela dividida (particularmente, considero muito mais legal jogar ao lado de um amigo do que com um desconhecido de outro país), então a única forma de fazer isso é online. E o online não funciona bem.
Sabe como em jogos como Gears of War, Resident Evil 5 ou o próprio Borderlands, é só você tornar seu jogo público que em pouco tempo alguém entra? Isso não acontece aqui. Eu já joguei várias vezes, por várias horas, em um jogo público e ninguém entrou.
O jogo ocasionalmente te avisa se tem algum jogador próximo, e a ideia é você apertar um botão e entrar no jogo dessa pessoa. Na prática, toda vez que fazia isso, era levado para uma tela de loading, onde ficava por alguns minutos e depois recebia uma mensagem dizendo algo como “não foi possível entrar”. Bem frustrante.
A única outra opção, então, é usar o matchmaking, e essa funciona, mas particularmente, eu prefiro receber pessoas nos meus jogos a entrar no dos outros, e isso é uma possibilidade que Dead Island me nega. E usando o matchmaking, dificilmente você encontra alguém que esteja exatamente no mesmo ponto que você.
Esses são alguns dos problemas técnicos que eu encontrei, mas aparentemente o jogo, especialmente na versão de PC, saiu com muitos problemas. Alguns deles foram resolvidos via patch. Eu só joguei depois de instalar o patch e, tirando essas coisinhas, tudo funcionou conforme esperado.
MIOLOS, BABY!
Considero Dead Island um excelente começo. Talvez tenha faltado um pouco de experiência para a Techland, mas eles demonstram potencial para voos mais altos, se souberem reconhecer o que têm de forte (nesse caso, o resort) e o que têm de fraco (nesse caso, esgoto e prisão). E fica melhor ainda se seu próximo jogo for divulgado da forma correta, vendendo o que realmente fará parte do produto final.
Dead Island é um jogo bastante divertido e eu gostei de tê-lo jogado. Não é melhor que suas fontes de inspiração (Borderlands e Condemned), mas tem zumbis e o potencial de saciar seus sonhos molhados de matar zumbis em um lugar paradisíaco. E, só por isso, já vale a compra.
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